quarta-feira, 6 de junho de 2012
122º CAFÉ FILOSÓFICO - O SILÊNCIO
Durante os 5 minutos iniciais deste Café Filosófico permanecemos calados, em silêncio. Não com o intuito de reflectir, meditar ou mesmo relaxar, mas simplesmente para "estar no silêncio". Todos aproveitámos essa rara oportunidade para não ouvir nada nem ter de dizer nada. E assim permanecemos... calados... durante 5 minutos.
Depois deste período pediu-se aos participantes que fizessem uma pergunta que nos fizesse pensar sobre o silêncio.
Este Café Filosófico foi mais temperado e calmo, menos dialéctico e combativo que o habitual. Foi uma sessão em que houve mais Diálogo que debate, onde os participantes estavam mais predispostos a escutar que a falar e onde se sentiu mais uma partilha comum de significados que uma confrontação de diferentes pontos de vista. Encontros como este são raros numa época em que poucas pessoas sabem (e querem) realmente escutar os outros mais interessadas que estão em anunciar ao mundo as suas opiniões, os seus valores, as suas certezas.
A qualidade deste Café Filosófico deveu-se certamente às pessoas que nele participaram. Todos eles assíduos do Café Filosófico, alguns deles estão comigo desde o início nesta aventura de trazer o Diálogo Filosófico de volta à cidade: a Chantal, a Daniela e o Tiago. Foi uma sessão em que o grupo praticamente dispensou o moderador (senti-me mais interveniente no diálogo que um seu árbitro, como é habitual) e construiu e aprofundou sozinho os vários temas que foram surgindo no decurso do Diálogo.
Sessões como esta fazem-nos ver a importância da prática continuada e consciente do Diálogo com os outros. Essa prática aguça-nos os sentidos, afina-nos a sensibilidade para o Diálogo e apura-nos o gosto em escutar o que os outros pensam.
Assim vale a pena continuar!
Vídeo do 122º Café Filosófico
Café Filosófico sobre o Silêncio from Tomás Magalhães Carneiro on Vimeo.
Texto de Chantal G.
Cheguei depois da hora marcada. Ele também, aliás foi o último a chegar.
Foi recebido com expectativa depois do Tomás nos ter perguntado: o que
nos vem à cabeça quando pensamos em diálogo?
Ouvi Troca, Conversa, Dar e Receber, Partilha, Confronto mas de facto
não te ouvi citar a ti, com os teus fatos alinhavados de ausências.
Chegaste, contudo, pouco depois vestido de fato de gala, aquele que
tiras raramente do armário. Assenta-te tão bem e portanto...
Foste, por todos, recebido Silêncio.
Cinco minutos na tua companhia. Consentida.
Fiquei a observar todos em meu redor e imaginar que tipo de homenagem
te poderiam estar a prestar. Alguns rostos pensativos, outros sérios.
Foste o último a chegar e o primeiro a partir. As palavras chegaram
para nos ajudar a pensar em perguntas que nos permitissem reflectir
sobre ti, Silêncio:
- porquê tanta seriedade no silêncio? (Chantal)
- devemos cultivar o silencio? (Tiago)
- qual o teu espaço? (Eduardo)
- porque nos constrange o silêncio em grupo (Daniela)
- existe verdadeiramente silêncio? (Manel)
- porque há silêncios desconfortáveis? (Lara)
- no caos pode haver silêncio? (Filipe)
A primeira questão analisada foi a que se prendia com a seriedade no silêncio:
- por ser a nossa face neutra quando não dialogamos. Seriedade =
Neutralidade (Tiago)
- pelo facto da pessoa se virar mais para dentro. Seriedade =
Interioridade (Eduardo)
Seguiu-se a pergunta da Lara, qual o motivo para haver silêncios
desconfortáveis?:
- porque existe uma diferença entre o Eu activo e o Eu passivo face ao
silêncio, o Eu que controla/consente o silêncio e o Eu que
«padece»/não controla o silêncio (Chantal)
- porque há uma imposição do silêncio (Eduardo)
- porque existe uma distância emocional entre as pessoas (Tiago). Para
ilustrar o seu pensamento, o Tiago citou-nos Vitorino Nemésio «O amor
é quando o silêncio não pesa»
- porque existe/sentimos uma estranheza (Lara)
- o silêncio é doloroso quando existe mentira, constrangimento, quando
fica algo por dizer (Eduardo)
- quando nos identificamos com a(s) pessoa com quem estamos a tentar
falar. Nesses casos, o silêncio colide com a vontade de comunicar
(Daniela).
Mas afinal, temos assim tanta vontade em comunicar? (Tomás), Qual a
diferença que existe entre nós e os meus amigos do Alentejo «que vivem confortavelmente o silencio»? (Tomás)
- a ligação com o meio onde estão inseridos, a proximidade, o ritmo de
vida (Eduardo)
Nós citadinos, temos capacidade de comunicar sem ser verbalmente? (Tomás)
- a velocidade dos espaços é diferente. A atenção às outras formas de
comunicação (para além da verbal) requer tempo, o tesouro perdido dos
citadinos (Chantal)
Retomando a análise das perguntas iniciais, analisamos a do Tiago:
devemos cultivar o silêncio?:
- sim, porque ajuda a pensar melhor (Tiago)
- sim, pela pausa, que proporciona bem-estar (Manel)
- sim, pelo bem estar (Lara)
O Tomás pediu-nos para problematizar a posição do Manel:
- qual a duração da pausa? (Chantal)
- pausa de quê? (Tiago)
- os cinco minutos de silêncio iniciais foram uma pausa? (Filipe)
O Manel escolheu responder à questão do Tiago, à qual respondeu com «pausa da vida»
A última questão escolhida foi a do Eduardo que evoluiu para:
Qual a ligação entre o silêncio e o espaço individual?
- um aguçar dos sentidos / conhecimento (Lara)
- um desprendimento, um esvaziar do espaço individual (Eduardo)
- um efeito fertilizante (Chantal)
Desta vez, e por não termos abordado este ângulo na nossa sessão, o
Tomás deu-nos um TPC: pensar na ligação entre o silêncio e o diálogo.
Fizeste-me sorrir enquanto estiveste aqueles cinco minutos connosco.
Recordei-me e recordei-te na pré-escola, quando nos sentavam em
círculo no átrio grande e nos pediam para brincar ao «jogo do
silêncio»... Volta, mais vezes.
Chantal G.
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