Domingo passado (29 de Abril) reuni-mo-nos uns quantos filósofos no Orfeão do Porto, uma sala centenária com vista para a Praça da Batalha, para discutir se, afinal todos somos ou não filósofos.
A questão de saber quem é o sujeito atrás do "somos" ficou em aberto ("nós" presentes ali na sala?; "nós" presentes no planeta terra?; apenas alguns de "nós" presentes no planeta terra?; quais de "nós"?; etc.
Deixo-vos com o texto enviado pela Chantal que entre as badaladas dos sinos da igreja de Santo Ildefonso ali ao lado lá foi seguindo o fio de ariane que nos levou da pergunta inicial,Somos todos filósofos?, por um pequeno desvio para saber O que é ser racional?,virando à esquerda para tentar perceber Qual a diferença entre filosóficos e filósofos?, que nos levou até terrenos da lógica para tentar perceber se estávamos em busca de uma Definição Real ou de uma Definição Nominal, para finalmente terminarmos com a questão que esteve presente desde o início da discussão, O que é ser filósofo?
Tam......Tam......Tam......Tam......Tam...
17h00 no Orfeão do Porto.
Distraí-me, algumas vezes, durante o último CF. Não pela sala ou pelo
tema. Pelos sinos da igreja vizinha.
A última sessão esteve preenchida de analogias enquanto procurávamos
responder à pergunta «somos todos filósofos»?.
À medida que decorria o CF pensava nos sinos, que ia ouvindo, e na sua
linguagem. E se falássemos como sinos?
Para mim, um dos aspectos mais fascinantes dos CF's é esta contínua
irrupção de formas de expressão/comunicação. O Homem gosta de falar.
Suponho que os sinos gostem de ser ouvidos.
Algures no meio, ficam depoimentos solitários, ideias por ouvir,
questões por entender.
Tam...Tam...Tam...toca a importância da interpretação
caritativa...Tam...Tam...Tam...
Se somos todos filósofos?- Não, porque nem toda a gente está devotada ao pensamento (Rodrigo)
- Sim, porque somos racionais (Amândio)
- Poderíamos todos ser filósofos, há potencialidade: componente
estudo/disposição/interesse (Paulo)
- Condição necessária: ser racional mas, para além disso, é necessário
olhar o mundo à nossa volta (Jorge)
O que é ser racional?- Ter uma linguagem, comunicar um pensamento (Inês)
- Ter uma relação com o mundo (António)
- Um ser racional pode não ser um ser consciente (Inês)
- Racionalidade implica: observar, experimentar e concluir (Rodrigo)
Voltando à questão inicial: Somos todos filósofos?- Uma condição necessária para se ser filósofo é o «vício de pensar» (Rodrigo)
- Existe uma diferença entre filósofos e grandes filósofos (estes
últimos que pensam por sistema)? (Amândio)
- O filósofo é o amante do ócio (Eduardo)
- O filósofo é o amante do conhecimento (Rui)
- Todos somos filósofos porque pensamos e decidimos no dia-a-dia (Eduardo)
Qual a diferença entre filosóficos e filósofos?
- O Filosófico é uma qualidade: coloca uma questão. O filósofo pega nessa qualidade e, fazendo disso a sua vida, procura ir mais além.
- Nesta perspectiva, não somos todos filósofos (Rui)
- Somos todos cozinheiros mas não somos todos filósofos. A filosofia
implica dedicação (Guiomar)
- Se existisse um acordo geral, poderíamos todos ser filósofos?
(questão do "acordo" levantada pelo Rui)
- Esse «acordo» poderia ser entendido como um processo de aprendizagem
(Paulo Jorge)
Diferença entre Definição Real e Definição NominalEsta diferença levou-nos a conhecer uma personagem à primeira vista contraditória:
o Rui 1 (que defende que não somos todos filósofos pois nem todos temos determinadas características filosóficas = definição real de filósofo) e o Rui 2 (que defende que se todos acordássemos todos poderíamos ser filósofos = definição nominal de filósofo).
Esta ideia de um acordo que "magicamente" nos tornasse a todos filósofos foi contestada pelo Rodrigo que, recorrendo à analogia de um telemóvel que precede o nome "telemóvel" - «O objecto precede sempre o nome» - nos quis mostrar que o "ser filósofo" necessita de algumas características objectivas que são "extra-acordo", ou seja, objectivas.
Este argumento (ou a analogia nele presente) fez-nos dirigir esforços para a questão de saber se um telemóvel e um filósofo são "objectos" de uma mesma espécie, ou seja, se possuem de facto características objectivas que fazem deles aquilo que são, ou se, pelo contrário, podemos chegar a um acordo acerca do que uma coisa é, independentemente do que ela realmente é. Desafiado a superar essa contradição e a «comprometer-se com um caminho» (o da definição real ou o da definição nominal) o Rui não o fez. No seu entender isso não é possível, nem mesmo no âmbito de um CF.
O que é ser filósofo? (Guiomar)- Um amigo do conhecimento que coloca questões filosóficas (Guiomar)
- Para ser filósofo são necessárias ferramentas, dais quais nem todas
as pessoas estão munidas (Celeste)
- Observação/Transferência/Ferramentas. É estar profundamente ligado à
forma como a vida se desenrola (Rodrigo)
- Olhar para o mundo/vida como ela é (Jorge). Esta definição evolui
depois para olhar a vida e procurar compreender como ela é.
- É fazer filosofia (Paulo)
Apesar de verdadeira esta definição é, ao mesmo tempo, "pouco informativa", ouviu-se.- É explicar a vida como ela é (Raquel).
Ressuscito o meu lavrador. Que olha (para além do que a palavra
«olhar» comporta num primeiro «ouvir»), sente e filosofa.
Tam...Tam...Tam....Tam...Tam...Tam...Tam...
Chantal Guilhonato
1 comentário:
Gostei muito, é muito didático o diálogo para aprender sobre a filosofia, muito obrigado pelo conhecimento fornecido.
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