O prisioneiro voluntário
Um homem é levado durante o sono para uma cela. Quando acorda percebe que a cela tem todas as comodidades que pode querer. Livros para ler, CD´s de música para ouvir, um sofá confortável, uma boa cama e um companheiro com quem gosta conversar durante horas mas que se cala mal não o quer ouvir mais. Rapidamente percebe que não quer sair de lá e prepara-se para passar naquela cela o resto da sua vida.
No entanto mesmo que quisesse sair não podia, uma vez que a porta da cela se encontra fechada e o carcereiro deitou fora a chave.
- Este homem é livre?
O José Rui M. Correia continua a marcar a imagem destes Cafés Filosóficos com as suas fotografias e a Chantal com os seus textos inspirados nestas sessões. Desta vez dá-nos conta das diferenças entre duas sessões de Café Filosófico onde tratámos este problema do "prisioneiro voluntário",
o 73º Café Filosófico no E-Learning Café e o 75º Café Filosófico no Clube Literário do Porto, nomeadamente dos diferentes significados encontrados para Liberdade em cada uma delas.
Estas contribuições voluntárias para o nosso blog são um sinal do que há muito defendo acerca dos Cafés Filosóficos, que eles continuam muito para além do espaço-tempo que delimitam a sessão. No meu caso continuam em casa, pela noite dentro a pensar no que falámos. E com vocês, passa-se o mesmo?
Texto de Chantal G.
Os dois quartos são contíguos. Ficam a uma escassa distância de duas semanas de intervalo.
Do not disturb, Prisioneiro Voluntário (John Locke).
Guião:
Durante a noite, uma pessoa é levada para um quarto, com uma companhia, no qual dispõe de música, leitura, etc. Existe naquele espaço tudo o que essa pessoa deseja pelo que ela não quer sair do quarto. Porém, nem que o quisesse fazer, não poderia. Essa pessoa é livre?
Cenário 1:
Noite amena. Terça-feira. E-Learning Café
- Não, não é livre porque a pessoa não escolheu ir para o quarto. Essa situação foi-lhe imposta (Grupo: Maria/Ana/Chantal);
- Não, não é livre porque não pode sair (Leonor);
- Sim, porque ser livre é cumprir a sua vontade/querer o que se tem (Sérgio).
2 concepções de Liberdade:
- Liberdade = Querer (Ana) - Estoicismo
- Liberdade = Poder escolher (Maria) – Descartes
Transpondo o quarto para a condição humana:
- Sim, somos livres porque sonhamos (Chantal)
- Sim, porque podemos escolher (Ricardo)
- Sim, porque sabemos que não sabemos tudo (Sérgio)
Cenário 2:
Tarde quente. Domingo. Clube literário.
- Não, não é livre porque a pessoa foi forçada a estar lá (Rui);
- Sim, é livre porque se não procura sair é porque se sente lá bem (Jorge);
- Não, não é livre porque não escolhe a sua condição (Carlos);
- Sim, porque a pessoa escolheu quando decidiu ficar (Jorge);
- Não, porque a pessoa foi condicionada logo não é livre (Rui);
Nota: Todos nascemos condicionados (Zé Rui).
- Sim, porque a pessoa sente-se livre (Ana Paula);
- Não, não é livre porque a pessoa não escolheu ser como é (Luís);
Nota: A partir de que número de opções somos livres? (Luís).
Nota: Não se trata de uma questão quantitativa mas qualitativa (Rui)
2 concepções de Liberdade:
Liberdade = Vontade (Daniel)
Liberdade = Acção (Daniel)
[Pergunta sugerida para dar seguimento à discussão]
Qual a diferença entre o prisioneiro voluntário e o “não prisioneiro”?
Semelhança: Ambos estão condicionados: Cela / Viver (Daniel)
Diferença: A quantidade de escolhas (Daniel)
Diferença: O prisioneiro é mais livre porque exerce a sua vontade (Jorge)
Nota: tendência para a indeterminação relativista [abusar do "pode" e do "depende" que não nos permite aprofundar e analisar nenhum sentido dos conceitos e das problemáticas em causa.]
Transpondo o quarto para a condição humana:
Somos Livres?
- Sim, ser livre é não pensar na liberdade (Jorge);
- Não, ser livre é fazer o que se quer (Euridíce);
- Sim, porque temos direitos e deveres, como o trabalho (Simão);
- Não, porque todos os nossos pensamentos são condicionados (Luís);
Nota: «morder a bala»: aceitar as consequências aparentemente inaceitáveis de uma posição.
[O Luís "mordeu a bala" ao aceitar que a sua posição niilista quanto há liberdade leva também a um niilismo quanto à responsabilidade moral: "não somos livres, logo não somos responsáveis pelo que fazemos."]
- Não, a pessoa é condenada a fazer o que quer (Luís);
Nota: O Querer não se coaduna com o instinto de sobrevivência (Jorge).
Cenário 3 – Derivação final:
Tarde Quente. Sábado. Galeria Municipal em Matosinhos.
O autor da exposição «Subway Life», António Jorge Gonçalves, referiu algures numa parede
«os meus modelos ignoram-me mas às vezes é como se sentisse as cócegas que lhes faço com a minha caneta sobre o papel».
Nem que ela nos ignore, façamos cócegas à Liberdade.
Chantal
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