quarta-feira, 7 de julho de 2010
Jovens Filósofos 2010_Os animais riem-se?
Sessão de Filosofia com Crianças (12_14 anos) na Universidade Júnior do Porto
Duração: 3 horas
Exercício : “Pensar o impensável”
1) Os alunos pensam numa frase que acreditem ser “absolutamente verdadeira”;
2) Lêem-se todas as frases;
3) Escolha de uma frase que a maioria considera poder ser refutada;
4) Debate;
5) Escolha de uma frase que a maioria considera ser irrefutável;
6) Tentativa de refutação por parte de todos os alunos.
Objectivos
- Elasticizar conceitos e crenças;
- Alargar pontos de vista;
- Aprender com ou outro (criticar, ser criticado, construir a partir das críticas)
Aula 5 – 2 de Julho (Turma: 1D - 1ª semana)
Verdade 1 – “Todos os seres humanos na vida pensaram pelo menos uma vez.” (Carolina)
Crítica 1 – “Os recém-nascidos que morrem à nascença nunca pensaram.” (Inês)
Crítica 2 – “Os «pré-bébes» (conceito inventado pela Beatriz para designar o feto) não pensaram porque não nasceram.” (Mª Beatriz)
1ª Refutação à Mª Beatriz – “Os «pré-bébes» nunca nasceram e a Carolina fala de vida.”
2ª Refutação à Mª Beatriz – “Até os «pré-bébes» pensam.”
Crítica 3 - “Há pessoas que nunca tiveram actividade cerebral, que nunca pensaram e estão vivas.” (Tiago)
Refutação ao Tiago – “Não sabemos se as pessoas sem actividade cerebral não pensam.” (Alexandra)
Contra-argumento do Tiago – “Não ter actividade cerebral é não pensar.” (Tiago)
Verdade 2 – “O preto não é branco” (Tiago)
Crítica 1 – “O preto significa morte e o branco paz. Quando morremos ficamos em paz, logo o preto é branco.” (Gonçalo)
Crítica 2 – “Sem luz o branco é preto.” (Diogo)
Crítica 3 – “Para algumas pessoas o branco pode ser preto e o preto branco. Não sabemos.” (Ricardo)
Crítica 4 – “As cores são reflectidas pelos objectos. Um objecto preto absorve todas as cores menos o preto, logo o preto na verdade não é preto mas branco e todas as outras cores. Um objecto é aquilo que absorve e não o que reflecte.” (Tomás)
nota: a partir desta última crítica os alunos identificaram a frase do Tiago («o preto não é branco») como partindo de um “ponto de vista subjectivo” e algumas das críticas (“o preto é branco”) como dependendo de um «ponto de vista científico».
Verdade 3 – “As hienas partem-se a rir.” (Francisco)
Crítica 1 – “As hienas não se partem.” (Sara)
nota: debate em torno do uso metafórico da frase do Francisco e do uso literal da crítica da Sara.
Para evitar esta ambiguidade o Francisco reformulou a sua frase:
“As hienas riem-se.”
Crítica 2 – “As hienas apenas imitam o riso, mas não se riem como nós.” (Leonor)
Crítica 3 – “As hienas imitam o barulho do riso, mas não se riem.” (Ricardo)
Crítica ao Ricardo – “As hienas não sabem que imitam o riso dos homens, por isso na verdade não imitam.” (Pedro)
Sugestão/Pedido de Definição: “Acho que devíamos começar por saber o que é o riso.” (Sarah)
“Rir é algo que as pessoas e os animais fazem quando estão felizes e têm sentimentos de alegria.” (Rita)
“Os animais não se riem. Só as pessoas têm sentimentos complexos para se rirem.” (Gonçalo)
nota: A partir daqui os alunos decidiram deixar de falar de hienas e consideraram mais interessante falar de animais no geral.
“Mas eu às vezes rio-me sem ter nenhum sentimento complexo.” (Rita)
“Os sentimentos complexos estão nos seres humanos. Mesmo que não seja por causa de um sentimento complexo que nos rimos só nos rimos porque temos esses sentimentos complexos.” (Gonçalo)
nota: o leitor poderá tentar saber que falácia a Rita cometeu e de que forma o Gonçalo a detectou
Quanto à questão de saber se os animais se podem rir não houve consenso, dividindo-se o grupo entre aqueles que consideravam que os animais têm sentimentos complexos e que por isso se podem rir, e aqueles que acham que os animais não têm esse tipo de sentimentos e, como tal, não se podem rir.
A partir daqui lançámos uma questão ao grupo:
“O riso é uma questão filosófica ou científica?”
Por unanimidade os alunos escolheram a resposta da Sarah como a melhor resposta:
“É uma questão filosófica e científica, pois precisamos da ciência para nos dizer o que se passa no nosso cérebro quando nos rimos, mas também precisamos da filosofia para pensar naquilo que a ciência nos diz.”
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