segunda-feira, 12 de julho de 2010

Jovens Filósofos 2010 "Quanto tempo temos para fazer filosofia?"


Sessão de Filosofia com Crianças (12_14 anos) na Universidade Júnior do Porto (2010)

Duração: 3 horas


Exercício : “Pensar fora do quadrado” ou “Pensar o impensável”


1) Os alunos pensam numa frase que acreditem ser “absolutamente verdadeira”;

2) Lêem-se todas as frases;

3) Escolha de uma frase que a maioria considera poder ser refutada;

4) Debate;

5) Escolha de uma frase que a maioria considera ser irrefutável;

6) Tentativa de refutação por parte de todos os alunos.



Objectivos

Elasticizar conceitos e crenças;

Alargar pontos de vista;

Aprender com ou outro (criticar, ser criticado, construir a partir das críticas)



Aula 9 – 8 de Julho (Turma 1C – 2ª semana)



Nesta sessão tivemos a companhia de algumas jornalistas do Jornal de Notícias que vieram à Faculdade de Ciências cobrir esta e outras actividades da Universidade Júnior.


http://jn.sapo.pt/multimedia/video.aspx?content_id=1613726


A sessão começou com uma conversa em torno da questão “O que é pensar o impensável?”



“Pensar o difícil”, disse o João. Já para o Pedro trata-se de, “simplesmente, pensar.”

O Pedro falou-nos em “imaginar” e a Sara em “Pensar o difícil que se torna fácil quando pensamos sobre ele.” Finalmente para o Luís pensar o impensável é “pensar o que a sociedade não costuma pensar.”



A primeira “Verdade Absoluta” que resolvemos investigar foi a do Luís: “A parede é amarela.”

A Sara procurou falsificar (refutar) directamente a “verdade” do Luís dizendo que a parede não era amarela mas bege. Já a Maria Luísa apresentou-nos uma “falsificação da verdade” do Luís de um outro tipo: “A parede não é bege, a tinta é que é.”

À falsificação da Sara o grupo chamou de “falsificação pela cor” e à da Mª Luísa “falsificação pelo material”.

A refutação do Francisco foi inteiramente diferente. O seu problema com a frase do Luís é que “é pouco específica, pois não nos diz de que parede fala, se a desta sala, se a da sua casa, se a da minha casa...”.
Quem avançou a crítica mais arrojada da manhã foi o Bernardo: “Tudo no mundo é uma grande parede. O chão, o tecto, as montanhas, até o ar é uma parede, e o Luís não nos diz que parede é essa que é amarela.” Este seu insight filosófico levou-o ainda a caracterizar a frase do Luís como “demasiado específica.” Deixámos em aberto a pertinência desta escolha de conceitos.

Falou-se ainda da possibilidade de "a parede não ser bege para os daltónicos, para os animais ou para extraterrestres."

No final da sessão conversamos um pouco sobre a aventura do filosofar.
Curiosos por saber mais sobre o que era isto da Filosofia (lembro que os alunos da Oficina Jovens Filósofos frequentam o ensino básico, como tal nunca tiveram a disciplina de filosofia) propus-lhes um dilema:
“Se quiserem uma resposta a uma pergunta filosófica devem perguntar a um filósofo profissional que pensou nessa pergunta durante 30 anos sabendo que ele lhes dará uma resposta muito satisfatória, mas não perfeita ou, por outro lado, deverão procurar essa resposta por vocês mesmo sabendo que obterão uma resposta medíocre?”

Como era de esperar os alunos escolheram unanimemente a segunda opção mas por razões diferentes:

“Devo ser eu a procurar pois a resposta do professor podia ser demasiado complexa para eu perceber.” (Mª Luísa)

“ Devo pensar eu na resposta pois assim ao caminhar para a resposta vou encontrando muitas outras coisas que se ouvisse logo a resposta final do professor não encontraria.” (Luís)

Esta ideia levou o Luís a avançar com a seguinte metáfora acerca de filosofia e viagens:

“Pensar por nós é como ir até Hong Kong por terra, conhecendo imensos sítios e pessoas novas. Perguntar aos outros é ir logo de avião, conhecer Hong Kong e nada mais. Se tivermos tempo devemos ir por terra.”

“Quanto tempo temos para fazer filosofia?”, perguntei-lhe.

“A vida toda!” respondeu.

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