segunda-feira, 12 de julho de 2010

Jovens Filósofos 2010 "A morte é uma certeza?"


Sessão de Filosofia com Crianças (12_14 anos) na Universidade Júnior do Porto (2010)

Duração: 3 horas

Exercício : “Pensar fora do quadrado” ou “Pensar o impensável”


1) Os alunos pensam numa frase que acreditem ser “absolutamente verdadeira”;

2) Lêem-se todas as frases;

3) Escolha de uma frase que a maioria considera poder ser refutada;

4) Debate;

5) Escolha de uma frase que a maioria considera ser irrefutável;

6) Debate.


Objectivos

Elasticizar conceitos e crenças;

Alargar pontos de vista;

Aprender com ou outro (criticar, ser criticado, construir a partir das críticas).

Clarificar o pensamento.



Aula 8 – 7 de Julho (Turma 1B – 2ª semana)


Verdade 1 – “Não consigo escolher uma verdade absoluta.” (Daniela)

Crítica 1: “Se pensasses mais um pouco conseguias.” (Inês)

Crítica 2: “Isso é uma verdade subjectiva.” (João Pedro)

Crítica 3: “Ao escolher essa frase já estás a escolher uma verdade.” (Diogo)



Verdade 2 – “A guerra é algo mau.” (Tiago)

Crítica 1: “A guerra pode ser algo bom quando une os povos em torno de uma causa comum.” (João Pedro)

Crítica 2: “A guerra é algo bom para quem ganha.” (Diogo)

Crítica 3: “A guerra pode ser algo bom pois muitas vezes define o progresso tecnológico.” (Duarte)

Crítica 4: “A guerra é algo bom para os países neutros que lucram com ela.”



Verdade 3 – “A morte é a única certeza que temos na vida.” (Filipe)



Crítica 1: “A morte não é a única certeza que temos. Também temos a certeza que o sol brilha, por exemplo.” (Tiago)

Nota: sem se aperceber este Jovem Filósofo usou uma técnica filosófica bastante comum e eficaz: através de um simples contra-exemplo refutou uma generalização abusiva. Esta crítica do Tiago levou o Filipe a clarificar a sua ideia reformulando a sua frase:

Verdade 3.1 - “A morte é uma certeza.” (Filipe)

Era esta a asserção que o grupo agora devia procurar refutar.

Crítica 2: “As pessoas que morrem continuam vivas nas cabeças dos seus amigos e familiares.” (Daniela)

Nota: Esta crítica da Daniela obrigou o Filipe a estabelecer uma distinção entre dois conceitos distintos de morte (“morte física” e “morte psicológica”) e a indicar a qual destes conceitos se referia.
Fez-se notar ao grupo que as críticas dos colegas à asserção do Filipe obrigaram-no a explicitar os pressupostos do seu pensamento, ou seja aquilo que ele “realmente queria dizer”.

Verdade 3.2. – “A morte física é uma certeza.” (Filipe)


Crítica 3: “No futuro, com a tecnologia, a morte física pode deixar de ser uma certeza ao encontrarem remédios para a vida eterna.”


Nota Final: Ao desafiarem criticamente a “verdade absoluta” do Filipe os alunos perceberam que se tratava de uma asserção bastante frágil, pelo menos na sua formulação inicial. Esta investigação em grupo permitiu-nos encontrar os pressupostos da asserção do Filipe passando do espectacular lugar-comum que nos diz que “A morte é a única certeza que temos na vida” para a menos espectacular mas bastante mais sólida asserção “Hoje a morte física é uma certeza” que alguns alunos sugeriram no final mas que, por falta de tempo, não pudemos aprofundar.

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