quarta-feira, 14 de julho de 2010

Jovens Filósofos 2010 "O que é o óbvio?"





Sessão de Filosofia com Crianças (12_14 anos) na Universidade Júnior do Porto (2010)

Duração: 3 horas


Exercício : “Pensar fora do quadrado” ou “Pensar o impensável”

1) Os alunos pensam numa frase que acreditem ser “absolutamente verdadeira”;

2) Lêem-se todas as frases;

3) Escolha de uma frase que a maioria considera poder ser refutada;

4) Debate;

5) Escolha de uma frase que a maioria considera ser irrefutável;

6) Debate.


Objectivos

Elasticizar conceitos e crenças;

Alargar pontos de vista;

Aprender com ou outro (criticar, ser criticado, construir a partir das críticas)


Aula 10 – 9 de Julho (Turma 1D – 2ª semana)


Verdade 1: “A relva é verde” (Alexandra)


Crítica 1: “A relva quando seca é amarela.” (Bábá)

Concluiu-se que esta crítica encontrou uma fragilidade na “verdade” da Alexandra: não nos diz a altura do ano em que a relva é verde.
Temporalidade foi o conceito encontrado para caracterizar esta primeira crítica.


Crítica 2: “A relva é verde mas podia ser azul.” (Júnior)

Para o grupo o Júnior avançou com uma possibilidade teórica que faz com que a frase “A relva é verde” não seja uma verdade absoluta pois “é possível que um dia a relva seja, ou tenha sido, azul.”
Possibilidade foi o conceito escolhido para esta crítica.


Crítica 3: “Há relva branca.” (Leo)
Com esta crítica a Leo pretendeu criticar através de um contra-exemplo o pressuposto da verdade da Alexandra de que (toda) a relva é verde.
A esta crítica o grupo deu o nome de Factual (é um facto que há relva branca).



Verdade 2: “Eu tenho um pai e uma mãe.” (Carolina)

Crítica 1: “Ela pode ser adoptada e ter dois pais e duas mães, biológicos e adoptivos.” (Bábá)


Crítica 2: “Ela pode ter dois pais gays, e aí tem dois pais.”

Seguiu-se uma pequena conversa em torno da questão de saber o que é uma prova?
A palavra da Carolina de que não era adoptada era uma prova de que não é, de facto, adoptada?
“Não, pois alguns pais só decidem contar aos filhos que são adoptados muito tarde.” Certificámo-nos de que esta “dúvida epistemológica” não era suficiente para abalar a certeza afectiva da Carolina acerca dos seus pais e continuamos.

nota 1: Este “fair-play” filosófico das crianças e dos jovens é uma característica essencial para se fazer filosofia (algo pouco comum nos adultos) e que nos permite discutir sem nenhuma espécie de censura qualquer assunto nestas sessões de Jovens Filósofos que são verdadeiros exercícios de liberdade de pensamento.

nota 2: A nota anterior serviu para atenuar um pouco o choque dos leitores mais sensíveis perante o que vem a seguir.

Crítica 3: “Ela pode viver uma mentira. Os pais dela podem ter morrido agora mesmo e ela não sabe. Se isso for verdade ela não tem mãe nem pai.”

Debatemos um pouco a pertinência do conceito de mentira nesta situação. “Acho que nesse caso ela não estará a viver uma mentira pois ninguém lhe mentiu. Aí estaria a viver uma omissão.”

Crítica 4: “Os pais não são propriedade dela. Por isso ela não pode dizer eu tenho.” (Ana Margarida)


Conversa final com os alunos

- O que é o óbvio?
"As verdades que no início nos pareciam “óbvias”, depois de críticadas pelos outros já não pareciam tão óbvias."
“O óbvio é o que nos parece verdadeiro, não é o verdadeiro.” (Margarida)

- O que é a filosofia?
“A filosofia é irritante e leva-nos a situações desconfortáveis… e por isso é que é boa.” (Carolina)

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