quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Jovens Filósofos no Colégio do Sardão

1) As crianças sabem fazer filosofia?

1ª Sessão no Colégio do Sardão (Gaia) a 4 de Novembro de 2009.
22 alunos do 4º ano (10 anos).*


Objectivos Gerais do curso Jovens Filósofos


1 - Ensinar e ajudar as crianças a pensar por si mesmas.

2 - Criar condições para que as crianças se ajudem umas às outras a pensar.

3 - Dar tempo e espaço a cada criança para pensar e fazer-se ouvir sobre o tópico em questão.

4 - Deixar que as crianças (e não o professor) liderem e determinem o conteúdo da sessão através do consenso acerca dos temas a aprofundar, aumentando assim a sua auto-estima e confiança nas suas capacidades de raciocínio.

5 - Criar um ambiente de reflexão ao mesmo tempo relaxado e sério que permita o aprofundar das questões em debate.

6 - Fomentar competências de argumentação e pensamento autónomo, crítico e criativo (competências transversais a todas as disciplinas - tão essenciais quanto saber ler e escrever - e essenciais para a vida).




Objectivos específicos desta (1ª) sessão

1 - Trabalhar a atenção dos alunos; fazer com que se ouçam e se compreendam.

2 - Fomentar a compreensão das condições necessárias para o trabalho filosófico (ver Nota Final)


Estrutura do Exercício

1) Pergunta

2) Cada aluno avança uma hipótese/resposta

3) Análise crítica da resposta pela turma

Resumo da Sessão

1) As crianças sabem fazer filosofia?

Pediu-se às crianças que identificassem, sublinhando nos seus cadernos, um conceito (palavra) que não compreendessem. Todos sublinharam a palavra filosofia e desta forma iniciamos a nossa investigação. 
Explicou-se aos alunos o significado do termo filosofia (amizade + sabedoria), e perguntou-se o que era um filósofo de acordo com este significado.
Após algumas tentativas foi sugerida a seguinte definição: Um filósofo é um amigo da sabedoria

Para saber se as crianças sabem fazer filosofia (isto é, se são filósofos) tinhamos agora de saber o que era um filósofo, ou seja, saber o que é isto de ser amigo da sabedoria.

Encontraram-se os dois conceitos (palavras) necessários para compreender esta definição: amizade e sabedoria. De seguida pediram-se as duas perguntas (subsidiárias da primeira pergunta) necessárias para investigar estes dois conceitos:
- O que é um amigo.
- O que é a sabedoria.

Nesta sessão ocupámo-nos da primeira pergunta relativa à amizade, e deixámos para uma segunda sessão a investigação da questão relativa à sabedoria. A questão principal, se As crianças sabem fazer filosofia, será aprofundada numa terceira sessão (ainda que, no fim desta sessão, alguns alunos terem afirmado já saber a resposta a esta pergunta).

1) Pergunta:

O que é um amigo?

2) Hipóteses/Respostas:

a) É alguém de quem gostamos e em quem confiamos. (Rita)

b) É alguém por quem temos carinho. (Beatriz)

c) É alguém com quem brincamos. (Francisca)

3) Análise crítica das respostas pela turma

- Prefiro a resposta a) pois é a mais completa. (André)

- Gosto mais da resposta b) pois diz o mesmo que a a) por menos palavras. (Beatriz)

- A resposta c) só está um bocado certa pois podemos brincar com alguém e não ser amigos dela. Prefiro a a). (Sara)

Esgotado e tempo da sessão (1h30m) pediu-se ainda uma resposta à pergunta O que é um filósofo?

Das 22 respostas sublinho uma bastante interessante que se desenvolve a partir da ideia a que chegámos no final da sessão:

Um filósofo é alguém que gosta e confia na sabedoria.


Nota Final: Meta-diálogo

Nesta sessão, mais que o conteúdo das respostas dos alunos, interessou-nos sobretudo trabalhar os processos de raciocínio que nos levam às respostas: fazer boas perguntas, avançar com argumentos, pedir razões, ouvir os outros, compreender os outros, fazer-se ouvir, expressar-se com clareza, definir conceitos, etc.
Se numa aula normal ensina-se (e bem) o resultado final de um raciocínio (teorias, argumentos, ideias, etc.) numa sessão de FcC ensina-se o processo que nos leva a esse resultado final.
Como em todas as sessões de Filosofia com Crianças (FcC) procurei que todos esses passos fossem, não só seguidos, mas também compreendidos pelos alunos. Conhecer e compreender estes diferentes processos de raciocínio é algo com que os alunos se devem começar a familiarizar logo desde as primeiras sessões de FcC. Nesse sentido, paralelamente à sessão, fui desenvolvendo um meta-diálogo (através de algumas questões e comentários colocados por mim e pelos alunos) acerca dos pontos necessários para se fazer filosofia.
Os alunos iam descobrindo esses pontos que eram de seguida apontados no quadro:
ler, falar, ouvir os outros, compreender os outros e dar um passo de cada vez (sugerido por uma aluna) foram os pontos encontrados nesta sessão.


*agradeço ao Dr. Paulo Silva e à Irmã Fátima a oportunidade que me deram de fazer filosofia com os seus alunos.

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