Nota prévia
No sentido de tornar as nossas discussões mais exigentes e profícuas nos próximos Cafés Filosóficos procurar-se-á aplicar algumas técnicas e métodos de Pensamento Crítico e Debate Filosófico utilizados nas nossas Oficinas de Filosofia Prática.
Objectivos Gerais das Sessões de Filosofia Prática
Nestas sessões procuramos utilizar toda a gama de ferramentas cognitivas, lógicas e argumentativas que um filósofo deve ter ao seu dispor ao abordar um qualquer problema filosófico:
- analisar e avaliar criticamente os argumentos propostos;
- resumir, clarificar e sintetizar posições;
- pedir objecções;
- pedir exemplos e analogias que ajudem a compreender os problemas;
- explicar e pedir explicações;
- conceptualizar argumentos e ideias;
- problematizar novos problemas a partir de problemas e argumentos iniciais
Cafés Filosóficos 11 e 12 – “A verdade existe?”
Introdução e convite
Nestes Cafés Filosóficos iniciou-se uma pesquisa em torno da questão da verdade que ainda se deverá prolongar pelas próximas sessões:
“A verdade existe?”
Uma das coisas que estas sessões mostram é que um grupo de pessoas sem qualquer preparação filosófica académica, quando orientado segundo um método crítico de investigação, é capaz de atingir resultados filosóficos bastante satisfatórios.
Mas tão importante quanto esses resultados, são os momentos de intenso prazer e fruição intelectual que só uma discussão séria, cuidada e bem-educada é capaz de nos proporcionar.
Um prazer bastante diferente de todos aqueles que nos possam chegar via os sentidos, e que advém da contemplação das grandes questões filosóficas e da possibilidade de as defrontar da forma mais adequada: fazendo filosofia.
Esses “momentos filosóficos” só são verdadeiramente sentidos por quem os vivencia e dificilmente podem ser descritos em palavras.
Desta forma, um pouco enviezada, fica o convite para que se juntem a nós nos próximos Cafés Filosóficos.
O Método Filosófico das Oficinas de Filosofia Prática
Nestas Oficinas procuraremos seguir os passos que, na nossa opinião, devem orientar qualquer investigação filosófica séria. São eles:
1) Problematização – A filosofia surge da dúvida perante um determinado problema. Como tal para iniciarmos qualquer investigação em filosofia é necessário que se comece por formular um enunciado, na forma de uma pergunta, em que esse problema esteja presente.
2) Respostas/Hipóteses – Uma vez perante um qualquer problema filosófico importa avançar com um argumento que o procure resolver. Nestas sessões de Filosofia Prática chamamos “hipóteses” e não “respostas” aos argumentos aduzidos pelos participantes por forma a que estes sintam alguma distância e desprendimento em relação a eles. A ideia que queremos transmitir é que não são as suas opiniões pessoais que estão em jogo, mas apenas “hipóteses de trabalho” que cada um “arrisca” e que estão à disposição de todos para serem criticadas.
3) Análise Crítica das Hipóteses – ao analisar uma hipótese/argumento queremos perceber a sua essência. Em primeiro lugar procurar saber se é na verdade um argumento, ou seja, se merece sequer ser críticado. Em seguida conhecer a sua estrutura e os seus elementos (razões, analogias, pressupostos, etc.) verificando, depois, se é claro (caso contrário pede-se ao autor para o clarificar) e pertinente (se responde à pergunta). A este movimento de análise crítica dá-se o nome de Crítica Interna.
4) Conceptualização – Este movimento crítico consiste em perceber:
i) quais os conceitos filosóficos fundamentais pressupostos pelo argumento;
ii) que outros conceitos é que podem estar implicados no argumento;
iii) que conceitos operativos é que nos podem ajudar a aprofundar a nossa investigação.
Por exemplo, perante a hipótese “O conhecimento é tudo aquilo que percepcionamos”, podemos sugerir o conceito de consciência por forma a aprofundar e testar a teoria da percepção defendida pelo autor.
O objectivo deste movimento crítico é procurar perceber o padrão de pensamento por trás
dos raciocínios de cada um.
5) Avaliação Crítica das Hipótese – Depois de analisarmos e percebermos a que conceitos os argumentos estão ligados (ou de que conceitos dependem) podemos iniciar a sua avaliação crítica:
i) Concordamos com o argumento?
ii) Aceitamos os seus pressupostos fundamentais (subjectivismo; relativismo, idealismo, etc.)?
iii) Que razões temos para o rejeitar?
A este movimento crítico dá-se o nome de Crítica Externa.
6) Nova Problematização – Agora é chegada a altura de pôr à prova a hipótese em questão, propondo um ronda de perguntas que testem os seus pressupostos e as suas razões. Neste ponto voltamos ao passo 1) e daí prosseguimos a nossa investigação filosófica até que o tempo se esgote (mais provável) ou até atingirmos uma resposta satisfatória (menos provável): “a filosofia é um caminho interminável.”
Resumo do 11º Café Filosófico
1) Problematização
“A verdade existe?”
2) Hipóteses
2) a) “Sim, a verdade existe mas não é universal. Cabe a cada um encontrar a sua.”
3) a) Análise Crítica
Apesar de não ter encontrado qualquer problema de clareza ou pertinência nesta hipótese, o grupo concluiu que não é um argumento, uma vez que não apresenta qualquer justificação (razão ou prova) para a asserção “Sim, a verdade existe”.
Como a única forma que temos para averiguar a verdade de uma asserção é examinando as razões ou provas aduzidas em sua defesa, neste caso não temos qualquer maneira de o fazer. O mesmo se passa quanto à segunda asserção, proposta ainda na primeira frase, de que “apesar de existir a verdade não é universal”.
Quanto à segunda frase da resposta, “Cabe a cada um encontrar a sua”, pareceu-nos mais uma indicação ou um conselho que uma proposição (um juízo susceptível de ser considerado verdadeiro ou falso), e só proposições podem ser consideradas razões de argumentos.
2) b) “A verdade existe mas depende do ponto de onde é observada.”
3) b) Análise Crítica
Os participantes consideraram esta resposta pouco clara pois não se percebe muito bem como é que “A verdade existe mas depende”. Parece existir alguma ambiguidade na conjunção mas a seguir a uma afirmação de existência e alguma vagueza e indecisão própria do verbo depender. Quer isto dizer que “a verdade deixa de existir em algum ponto?”; ou que “a verdade depende do observador?” Além disso falta argumentar em favor da existência da verdade. Mais uma vez é apresentada uma mera asserção, não justificada por qualquer razão ou prova.
A segunda asserção, “(a verdade) depende do ponto de onde é observada” também precisa de ser provada.
Como é característico do verbo depender, esta segunda asserção deixa-nos num impasse argumentativo sem que nos seja dada qualquer razão para aprofundarmos qualquer um dos “pontos de vista” dos quais a verdade depende. Mais uma vez estamos perante uma asserção injustificada, com a qual não nos temos de comprometer por quaisquer motivos filosóficos válidos.
É normal aceitarmos uma asserção injustificada quando ela é evidente, quando confiamos (ou receamos) a autoridade que a profere, ou por cansaço ou indiferença para com a discussão. Como nenhum destes motivos se verificava continuámos a nossa pesquisa em busca de outras hipóteses.
2) c) “É reconfortante acreditar que a verdade existe, que é praticada.”
3) c) Análise Crítica
Esta resposta nitidamente exprime um desejo ou uma necessidade mais que uma razão válida ou uma prova em defesa da sua crença na existência da verdade. É apenas uma manifestação de wishfull thinking, ou seja, a crença de que porque seria bom que uma coisa fosse verdade, então tem de ser realmente verdade. Apesar de ser uma forma errada de raciocínio é um erro bastante comum.
2) d) “A verdade não existe pois é um conceito.”
3) d) Análise Crítica
Esta hipótese, é clara, pertinente e é um argumento (apresenta uma razão em defesa da sua conclusão). É, porém, um argumento cuja validez depende da seguinte premissa escondida (entimema): “Os conceitos não existem.”
Apesar de ser uma hipótese de pesquisa interessante (a de saber o que é aqui entendido pelo conceito de existência) e que nos poderia deitar alguma luz sobre a questão da existência da verdade, o grupo decidiu não a aceitar.
2) e) “A verdade existe porque é um elemento pressuposto pela linguagem, isto é, serve o discurso como balanceador do julgamento.”
3) e) Análise Crítica
Esta foi a hipótese que passou o crivo da Crítica Interna no 11º Café Filosófico, e foi aquela que decidimos aprofundar no restante da sessão.
Antes, porém, foram levantadas algumas dúvidas quanto à sua pertinência, uma vez que a ideia de que a verdade é algo pressuposto pela linguagem parece ter algo em comum com a resposta c). Ou seja, parece reflectir uma necessidade que a linguagem terá da existência verdade, o que não prova de forma alguma (antes pressupõe) que a verdade exista. O argumento parece ser um argumento circular, em que o que se quer provar (a conclusão) já está presente na prova (as razões). Este tipo de argumentos, apesar de lógicamente válido não é de todo informativo. Seria necessário aduzir uma razão independente para acreditar na existência da verdade pressuposta pela linguagem.
No entanto, para encontrar essa razão independente teríamos de aprofundar um pouco melhor a concepção de linguagem defendida pelo autor do argumento e, como tal esta crítica à hipotese e) não foi aceite (ou antes foi deixada em suspenso) pelo grupo por forma a avançarmos para o passo seguinte da nossa investigação filosófica.
4) Conceptualização
Esta hipótese e) introduziu na discussão um conceito novo a partir do qual provou-se ser possível desbravar novos terrenos em torno da noção de verdade: o conceito de linguagem.
Por “desbravar novos terrenos” entenda-se a exploração de novos sentidos de um problema, a articulação de novas hipóteses e ideias, a clarificação de posições, etc. Ou, muito sucintamente, o desenvolvimento de um problema possibilitado pela inserção na discussão filosófica de um novo conceito (conceito operacional).
Neste caso o conceito operacional que nos ajudou a levantar novos problemas acerca do problema da existência da verdade foi o conceito de linguagem (ver ponto 6, em baixo).
5) Avaliação Crítica da Hipótese
Seguiu-se uma breve discussão acerca das implicações e consequências que a hipótese e) acarreta. Desta discussão pretendia-se que saísse uma nova pergunta que nos ajudásse explorar um pouco mais essa mesma hipótese. Após algumas sugestões chegou-se a uma questão/síntese a qual procuraremos atacar durante as próximas sessões:
6) Nova Problematização
“Pode existir verdade sem linguagem?”
Outras perguntas sugeridas pelo conceito (operativo) de linguagem:
- “Há verdade sem linguagem?”
- “A linguagem revela ou esconde a verdade?”
- “Cada linguagem tem a sua verdade?”
- “Conhecemos verdades reais ou conceitos criados?”
- “Somos descobridores ou criadores de verdades?”
- “Qual o critério de verdade numa linguagem?”
Resumo do 12º Café Filosófico
Nesta sessão voltou a pedir-se argumentos (hipóteses) que procurassem responder à pergunta inicial “A verdade existe?”. (Passo 1 - Problematização)
Foram avançadas por este novo grupo as seguintes hipóteses:
(Passo 2 – Hipóteses)
f) "Sim, porque podemos reconhecê-la na nossa mente."
g) "Não, porque apenas existem visões do mundo."
h) "Sim, porque a negação da frase “a verdade existe” é uma impossibilidade lógica."
(Passo 3 – Análise Crítica)
Mais uma vez o grupo submeteu as hipóteses à Crítica Interna, tendo apenas sobrevivido a hipótese h).
Em seguida procurou-se o conceito fundamental subjacente a este argumento e, por consenso, encontrou-se o conceito de lógica.
Tínhamos neste momento dois argumentos que passaram as sucessivas Análises Críticas de duas sessões de Café Filosófico e que procuravam responder à pergunta “A verdade existe?” Eram eles:
e) “Sim, a verdade existe porque é um elemento pressuposto pela linguagem, isto é, serve o discurso como balanceador do julgamento.”
e
h) Sim, porque a negação da frase “a verdade existe” é uma impossibilidade lógica.
Ambas respondem afirmativamente à questão inicial, mas fazem-no apresentando razões diferentes.
Por esta altura, e para se perceber até que ponto eram dois argumentos diferentes, procurou-se descobrir os conceitos fundamentais dos quais cada um depende.
Na sessão anterior o grupo descobriu o conceito de linguagem por trás do argumento e), porém nesta sessão foram sugeridos outros conceitos que, segundo este novo grupo, melhor descreveriam uma posição como a defendida por e):
Adequação;
Lógica;
Material;
Subjectivo;
Relativo.
O grupo hesitou a dada altura entre o conceito de subjectivo proposto pela Lurdes e o de relativo proposto pela Chantal. Por votação escolheu-se que o conceito de relativo seria o que melhor descrevia o argumento e).
Mais consensual foi a escolha do conceito subjacente ao argumento h): lógica
Chegados quase ao fim da sessão tínhamos agora dois pares de Argumentos/Conceitos que procuraremos aprofundar nas próximas sessões:
e) “A verdade existe porque é um elemento pressuposto pela linguagem, isto é, serve o discurso como balanceador do julgamento.” /Conceito de Relativo
e
h) "Sim, porque a negação da frase “a verdade existe” é uma impossibilidade lógica." / Conceito de Lógica
Escolhemos aprofundar o par argumento/conceito e) numa próxima sessão e, em jeito de síntese, propôs-se uma nova questão que o problematizasse.
Escolheu-se a proposta do João:
“Em que circunstância a verdade aparece na linguagem?"
Ponto da situação
Ao fim de duas sessões de Filosofia Prática (no contexto de dois Cafés Filosóficos) temos então dois argumentos que procuram responder à pergunta inicial “A verdade existe?”
São eles:
e) “A verdade existe porque é um elemento pressuposto pela linguagem, isto é, serve o discurso como balanceador do julgamento.”
e
h) A verdade existe, porque a negação da frase “a verdade existe” é uma impossibilidade lógica.
Vimos também que o primeiro argumento parece defender que a verdade existe mas é relativa (falta perceber a que é que é relativa a verdade: à linguagem?; ao sujeito linguístico?),
2) c) “É reconfortante acreditar que a verdade existe, que é praticada.”
3) c) Análise Crítica
Esta resposta nitidamente exprime um desejo ou uma necessidade mais que uma razão válida ou uma prova em defesa da sua crença na existência da verdade. É apenas uma manifestação de wishfull thinking, ou seja, a crença de que porque seria bom que uma coisa fosse verdade, então tem de ser realmente verdade. Apesar de ser uma forma errada de raciocínio é um erro bastante comum.
2) d) “A verdade não existe pois é um conceito.”
3) d) Análise Crítica
Esta hipótese, é clara, pertinente e é um argumento (apresenta uma razão em defesa da sua conclusão). É, porém, um argumento cuja validez depende da seguinte premissa escondida (entimema): “Os conceitos não existem.”
Apesar de ser uma hipótese de pesquisa interessante (a de saber o que é aqui entendido pelo conceito de existência) e que nos poderia deitar alguma luz sobre a questão da existência da verdade, o grupo decidiu não a aceitar.
2) e) “A verdade existe porque é um elemento pressuposto pela linguagem, isto é, serve o discurso como balanceador do julgamento.”
3) e) Análise Crítica
Esta foi a hipótese que passou o crivo da Crítica Interna no 11º Café Filosófico, e foi aquela que decidimos aprofundar no restante da sessão.
Antes, porém, foram levantadas algumas dúvidas quanto à sua pertinência, uma vez que a ideia de que a verdade é algo pressuposto pela linguagem parece ter algo em comum com a resposta c). Ou seja, parece reflectir uma necessidade que a linguagem terá da existência verdade, o que não prova de forma alguma (antes pressupõe) que a verdade exista. O argumento parece ser um argumento circular, em que o que se quer provar (a conclusão) já está presente na prova (as razões). Este tipo de argumentos, apesar de lógicamente válido não é de todo informativo. Seria necessário aduzir uma razão independente para acreditar na existência da verdade pressuposta pela linguagem.
No entanto, para encontrar essa razão independente teríamos de aprofundar um pouco melhor a concepção de linguagem defendida pelo autor do argumento e, como tal esta crítica à hipotese e) não foi aceite (ou antes foi deixada em suspenso) pelo grupo por forma a avançarmos para o passo seguinte da nossa investigação filosófica.
4) Conceptualização
Esta hipótese e) introduziu na discussão um conceito novo a partir do qual provou-se ser possível desbravar novos terrenos em torno da noção de verdade: o conceito de linguagem.
Por “desbravar novos terrenos” entenda-se a exploração de novos sentidos de um problema, a articulação de novas hipóteses e ideias, a clarificação de posições, etc. Ou, muito sucintamente, o desenvolvimento de um problema possibilitado pela inserção na discussão filosófica de um novo conceito (conceito operacional).
Neste caso o conceito operacional que nos ajudou a levantar novos problemas acerca do problema da existência da verdade foi o conceito de linguagem (ver ponto 6, em baixo).
5) Avaliação Crítica da Hipótese
Seguiu-se uma breve discussão acerca das implicações e consequências que a hipótese e) acarreta. Desta discussão pretendia-se que saísse uma nova pergunta que nos ajudásse explorar um pouco mais essa mesma hipótese. Após algumas sugestões chegou-se a uma questão/síntese a qual procuraremos atacar durante as próximas sessões:
6) Nova Problematização
“Pode existir verdade sem linguagem?”
Outras perguntas sugeridas pelo conceito (operativo) de linguagem:
- “Há verdade sem linguagem?”
- “A linguagem revela ou esconde a verdade?”
- “Cada linguagem tem a sua verdade?”
- “Conhecemos verdades reais ou conceitos criados?”
- “Somos descobridores ou criadores de verdades?”
- “Qual o critério de verdade numa linguagem?”
Resumo do 12º Café Filosófico
Nesta sessão voltou a pedir-se argumentos (hipóteses) que procurassem responder à pergunta inicial “A verdade existe?”. (Passo 1 - Problematização)
Foram avançadas por este novo grupo as seguintes hipóteses:
(Passo 2 – Hipóteses)
f) "Sim, porque podemos reconhecê-la na nossa mente."
g) "Não, porque apenas existem visões do mundo."
h) "Sim, porque a negação da frase “a verdade existe” é uma impossibilidade lógica."
(Passo 3 – Análise Crítica)
Mais uma vez o grupo submeteu as hipóteses à Crítica Interna, tendo apenas sobrevivido a hipótese h).
Em seguida procurou-se o conceito fundamental subjacente a este argumento e, por consenso, encontrou-se o conceito de lógica.
Tínhamos neste momento dois argumentos que passaram as sucessivas Análises Críticas de duas sessões de Café Filosófico e que procuravam responder à pergunta “A verdade existe?” Eram eles:
e) “Sim, a verdade existe porque é um elemento pressuposto pela linguagem, isto é, serve o discurso como balanceador do julgamento.”
e
h) Sim, porque a negação da frase “a verdade existe” é uma impossibilidade lógica.
Ambas respondem afirmativamente à questão inicial, mas fazem-no apresentando razões diferentes.
Por esta altura, e para se perceber até que ponto eram dois argumentos diferentes, procurou-se descobrir os conceitos fundamentais dos quais cada um depende.
Na sessão anterior o grupo descobriu o conceito de linguagem por trás do argumento e), porém nesta sessão foram sugeridos outros conceitos que, segundo este novo grupo, melhor descreveriam uma posição como a defendida por e):
Adequação;
Lógica;
Material;
Subjectivo;
Relativo.
O grupo hesitou a dada altura entre o conceito de subjectivo proposto pela Lurdes e o de relativo proposto pela Chantal. Por votação escolheu-se que o conceito de relativo seria o que melhor descrevia o argumento e).
Mais consensual foi a escolha do conceito subjacente ao argumento h): lógica
Chegados quase ao fim da sessão tínhamos agora dois pares de Argumentos/Conceitos que procuraremos aprofundar nas próximas sessões:
e) “A verdade existe porque é um elemento pressuposto pela linguagem, isto é, serve o discurso como balanceador do julgamento.” /Conceito de Relativo
e
h) "Sim, porque a negação da frase “a verdade existe” é uma impossibilidade lógica." / Conceito de Lógica
Escolhemos aprofundar o par argumento/conceito e) numa próxima sessão e, em jeito de síntese, propôs-se uma nova questão que o problematizasse.
Escolheu-se a proposta do João:
“Em que circunstância a verdade aparece na linguagem?"
Ponto da situação
Ao fim de duas sessões de Filosofia Prática (no contexto de dois Cafés Filosóficos) temos então dois argumentos que procuram responder à pergunta inicial “A verdade existe?”
São eles:
e) “A verdade existe porque é um elemento pressuposto pela linguagem, isto é, serve o discurso como balanceador do julgamento.”
e
h) A verdade existe, porque a negação da frase “a verdade existe” é uma impossibilidade lógica.
Vimos também que o primeiro argumento parece defender que a verdade existe mas é relativa (falta perceber a que é que é relativa a verdade: à linguagem?; ao sujeito linguístico?),
e que o segundo argumento parece defender a existência de uma verdade lógica.
Por consenso decidiu-se aprofundar o primeiro argumento e foram procurou-se duas questões que o problematizam.
Assim temos a seguinte agenda de discussão que importa aprofundar nas próximas sessões:
Pergunta inicial - "A verdade existe?"
Argumento_1 - "Sim, é um elemento pressuposto pela linguagem, isto é, serve o discurso como balanceador do julgamento."
Nova problematização_1 - “Pode existir verdade sem linguagem?”
Nova problematização_2 - “Em que circunstância a verdade aparece na linguagem?”
Síntese do moderador
Mesmo que as respostas à pergunta inicial e aos novos problemas que foram surgindo durante a discussão estejam ainda muito longe de serem alcançadas, este método de investigação em Filosofia Prática (Passos 1 a 6) permitiu que um grupo de pessoas inteligentes mas sem formação filosófica académica, identificasse e eliminasse uma série de falsos argumentos iniciais e caminhasse no sentido de aperfeiçoar os argumentos que iam sendo propostos, encontrando e criticando as suas razões, pressupostos e conceitos fundamentais e aprofundando assim as suas capacidades de análise e avaliação crítica de argumentos.
A ideia básica que anima estas sessões de Filosofia Prática é a de possibilitar aos participantes a contemplação e o confronto com questões filosóficas intemporais.
O que torna estas sessões tão interessantes (e viciantes) é a forma como essa contemplação e confronto é conseguida. Isto é, os participantes não chegam a esses problemas através da leitura dos pensamentos de outros pensadores nas suas obras ou em Histórias da Filosofia, mas através do fomento e exercício do seu próprio pensamento crítico no seio de um verdadeiro grupo informal de investigação.
Os problemas e as (tentativas de) respostas a que se chega nestas sessões são, verdadeiramente, o resultado do esforço concertado de dezenas de cabeças pensantes comprometidas a investigar quaisquer problemas ou temas que possam surgir de forma séria, responsável e crítica.
Numa palavra, comprometidas a pensar filosoficamente.
Sínteses de alguns participantes do 12º Café Filosófico
“Esta sessão obrigou-nos a sair da nossa linha de raciocínio habitual e a seguir as linhas de raciocínio de outras pessoas. Aí podemos descobrir coisas surpreendentes.” (Lurdes)
“Obriga-nos a uma maior concentração e comprometimento.” Não é para todos os espíritos.” (Rui)
“A tomada de decisões em grupo, por consenso e votação faz com que avancemos um pouco na pesquisa.” (Joana)
“É uma forma de discussão mais exigente. Saio daqui mais “pesada” que das outras sessões de Cafés Filosóficos em que a discussão é mais leve.” (Chantal)
Moderador: Tomás Magalhães Carneiro
Por consenso decidiu-se aprofundar o primeiro argumento e foram procurou-se duas questões que o problematizam.
Assim temos a seguinte agenda de discussão que importa aprofundar nas próximas sessões:
Pergunta inicial - "A verdade existe?"
Argumento_1 - "Sim, é um elemento pressuposto pela linguagem, isto é, serve o discurso como balanceador do julgamento."
Nova problematização_1 - “Pode existir verdade sem linguagem?”
Nova problematização_2 - “Em que circunstância a verdade aparece na linguagem?”
Síntese do moderador
Mesmo que as respostas à pergunta inicial e aos novos problemas que foram surgindo durante a discussão estejam ainda muito longe de serem alcançadas, este método de investigação em Filosofia Prática (Passos 1 a 6) permitiu que um grupo de pessoas inteligentes mas sem formação filosófica académica, identificasse e eliminasse uma série de falsos argumentos iniciais e caminhasse no sentido de aperfeiçoar os argumentos que iam sendo propostos, encontrando e criticando as suas razões, pressupostos e conceitos fundamentais e aprofundando assim as suas capacidades de análise e avaliação crítica de argumentos.
A ideia básica que anima estas sessões de Filosofia Prática é a de possibilitar aos participantes a contemplação e o confronto com questões filosóficas intemporais.
O que torna estas sessões tão interessantes (e viciantes) é a forma como essa contemplação e confronto é conseguida. Isto é, os participantes não chegam a esses problemas através da leitura dos pensamentos de outros pensadores nas suas obras ou em Histórias da Filosofia, mas através do fomento e exercício do seu próprio pensamento crítico no seio de um verdadeiro grupo informal de investigação.
Os problemas e as (tentativas de) respostas a que se chega nestas sessões são, verdadeiramente, o resultado do esforço concertado de dezenas de cabeças pensantes comprometidas a investigar quaisquer problemas ou temas que possam surgir de forma séria, responsável e crítica.
Numa palavra, comprometidas a pensar filosoficamente.
Sínteses de alguns participantes do 12º Café Filosófico
“Esta sessão obrigou-nos a sair da nossa linha de raciocínio habitual e a seguir as linhas de raciocínio de outras pessoas. Aí podemos descobrir coisas surpreendentes.” (Lurdes)
“Obriga-nos a uma maior concentração e comprometimento.” Não é para todos os espíritos.” (Rui)
“A tomada de decisões em grupo, por consenso e votação faz com que avancemos um pouco na pesquisa.” (Joana)
“É uma forma de discussão mais exigente. Saio daqui mais “pesada” que das outras sessões de Cafés Filosóficos em que a discussão é mais leve.” (Chantal)
Moderador: Tomás Magalhães Carneiro
Fotografia: José Rui Correia (no Clube Literário do Porto)
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